Internacionalmente reconhecido como um dos principais paisagistas do período modernista, Roberto Burle Marx (1909-1994) deixa um legado através de seus jardins. Desenvolveu projetos em diversos países do mundo além do Brasil, como EUA, Chile, Argentina, Malásia, Venezuela e outros.
Contexto histórico
Viveu em um período histórico e espaço social que possibilitou a aproximação de grandes artistas da história que serviram de professores, inspiradores ou amigos, como Portinari, Van Gogh, Picasso, Paul Klee e Mario de Andrade. De alma artística, cursou arte e música, mas com 23 anos de idade, a convite de Lúcio Costa, cria seu primeiro jardim profissionalmente, a Casa Schwartz e então a Praça Euclides Cunha, em Recife.
Você sabia que o escritório do Roberto Burle Marx ainda atua?! Clique aqui!
Traduziu a cultura do Brasil através de sua obra natural e viva, nos mais de dois mil jardins criados em sua carreira, os quais hoje servem de inspiração para futuros profissionais da área.
Por que foi diferente?
Arte. Sua paisagem se diferencia por conceber seus espaços como uma categoria de arte, como apresenta Floriano (2007). Diferente do que até então era proposto no modelo europeu, ou pela falta de proposta, pela lógica dos grandes empreendimentos urbanísticos – grandes áreas verdes sem tratamento estético, como ainda é comum atualmente, a proposta de Roberto era uma negação ao vazio funcionalista.
A representação da cultura local nos seus jardins com imensa e rica vegetação nativa, foi um contraponto as espécies utilizadas até então. Como o próprio Roberto fala em entrevista na época (Apresentado em Um pé de que? 2014), “a flora dos jardins é paupérrima”, indignado por usarem as mesmas vinte ou trinta árvores em todos os jardins, sendo que temos mais de cinco mil espécies a disposição.
Quem conviveu com ele diz
José Tabacow, na mesma entrevista, lembra que Roberto era inquieto e permanentemente procurava descobrir novas possibilidades de se expressar através de plantas. Com grande preocupação de não se fazer repetir, era comum Roberto chegar no escritório com um quadro novo, ou um projeto novo, e não perguntar se estava bonito. Mas perguntar “vocês acham que tá diferente?”, lembra José (Um pé de que? 2014).
Na revista Projeto em 1991, apresentada por Floriano (2007) Roberto fala da relação de pintar quadros e fazer jardins, e a máxima de que se fica bom no papel, fica bom no terreno:
“A mais sutil manifestação artística na cidade, é capaz de provocar uma nova percepção de espaço, tempo e lugar, podendo reviver ou intensificar os sentidos que ali habitam, como visão, olfato, tato e sonoridades.”Fazer jardim é fazer arte. Quando trabalho um jardim, penso nas leis que orientam os problemas artísticos: contrastes, textura relação entre volumes, harmonia e oposição de cores. Apenas não quero fazer um jardim que seja pintura de uma maneira diferente. Nunca pensei em um jardim bidimensional, jardim sempre tem terceira dimensão. E outra coisa importantíssima é a quarta dimensão: o tempo necessário para se observar esse espaço. Quando planto uma aléia ou agrupamento de árvores em relação a uma horizontal, estou fazendo arte.
Roberto em sua casa nos anos 80. Ele também era pintor de azulejos.
Modo de pensar
Esse tipo de atitude – fazer diferente e quebrar paradigmas, só é/foi concebível a partir do modernismo, no momento de transição. A busca da estética do belo fica aliada a função, e fazer jardins não é imitar igualmente a natureza, é reinterpretar. Porque o jardim é feito pelo homem e para o homem usar. E claro, uma das funções do jardim, é ser belo.
Como se entende que a arte é o reflexo do artista, esses pequenos relatos das pessoas que conviviam junto a ele, são esclarecedores de sua forma de pensar, agir, viver e projetar.
Então, um dos parâmetros principais dos jardins de Burle Marx é essa busca pelo jardim arte. E consequentemente na prática, pelo filtro do seu ser, gerou projetos paisagísticos com formas mais livres e abstratas, com invenções e experimentações, principalmente com espécies tropicais de flora.
Continue lendo sobre Burle Marx aqui!
Para ver mais:
CAZÉ, Regina. Programa Tataré. Um pé de que? 2014. Pindorama filmes.
Referências
FLORIANO, César. Roberto Burle Marx: Jardins do Brasil, a sua mais pura tradução. Revista Esboços, Nº 15. UFSC. 2007.
GUERRA, Abilio. José Tabacow. Entrevista, São Paulo, ano 07, n. 028.02, Vitruvius, out. 2006 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/07.028/3299>.
CAZÉ, Regina. Programa Tataré. Um pé de que? 2014. Publicado por Pindorama filmes. Disponível em https://youtu.be/Kdfi9aSsvGY. Acesso 29 jun. 2019